Na sessão realizada nesta quarta-feira (23) na ALEMS (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul), a deputada estadual Gleice Jane (PT) trouxe à tona uma preocupante questão ambiental e de saúde pública. A parlamentar abordou os resultados de uma pesquisa conduzida pela Embrapa Agropecuária Oeste, que analisou os níveis de poluição no Rio Dourados devido à presença de agrotóxicos.
O levantamento foi também tema de reunião da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da ALEMS na última terça-feira (22), onde o representante da Embrapa apresentou o resultado dos estudos realizados sobre a contaminação do Rio Dourados.
Segundo o relatório, a pesquisa considerou 46 agrotóxicos dos mais utilizados em MS, dos quais 33 foram encontrados nas águas do rio Dourados. Destes detectados, apenas três possuem regulamentação federal para determinar seus níveis aceitáveis. O glifosato, agrotóxico amplamente utilizado, não foi sequer estudado devido a requerimentos específicos do seu método de análise.
A deputada expressou preocupação em relação ao impacto desses agrotóxicos na saúde humana e ressaltou a necessidade de estudos mais aprofundados para entender os efeitos combinados dessas substâncias. Além disso, apontou a carência de dados sobre a situação em outras áreas do estado de Mato Grosso do Sul.
Gleice Jane mencionou que a pesquisa da Embrapa, iniciada em 2020, traz subsídios sistematizados a partir dos quais pode-se iniciar investigação sobre os problemas de saúde que possam estar relacionados à contaminação, além da avaliação sobre os custos econômicos para o Estado.
A deputada fez um apelo para que universidades e institutos de pesquisa se engajem no tema e contribuam com conclusões mais aprofundadas sobre a situação. Ela concluiu reforçando a necessidade de um amplo debate para trazer qualidade de vida à população e promover medidas que garantam a saúde ambiental e humana.
Por sugestão da parlamentar, foi definido na reunião de terça-feira que a Comissão de Meio Ambiente da ALEMS vai pedir informações a órgãos competentes sobre o impacto da presença de agrotóxicos no rio Dourados na saúde da população local.
“Iniciaram-se esses estudos muito recentemente, mas eles trazem para a gente já uma grande preocupação sobre o que isso pode influenciar na saúde das pessoas. Nós precisamos descobrir se 33 pequenas quantidades juntas, elas podem causar danos à nossa saúde. Então o que precisa ser feito agora? São necessários novos estudos, é preciso a gente confrontar, por exemplo, quais foram os problemas de saúde que surgiram nos últimos anos?”, questiona a parlamentar.
Na avaliação dela, é importante que as universidades abracem essa pauta e que Governo e Secretaria de Saúde comecem a levantar dados sobre quais os problemas de saúde vem sendo mais recorrentes em Dourados e em outras regiões. “Em Dourados, há mais de 20 anos a gente escuta falar sobre alguma coisa estranha que tem na água, que pode ser agrotóxico, tem um mito a respeito disso, mas até agora não existia um método de pesquisa que conseguisse identificar. Pela primeira vez a gente tem uma pesquisa com métodos. Um método adequado que conseguiu identificar”, destacou.
Impactos
Para a parlamentar, é preciso inclusive verificar o quanto essa contaminação está demandando a saúde das pessoas no município de Dourados. “Já há algum tempo vemos pessoas reclamando sobre dificuldades com várias alimentações, com alergia ao ovo, ao leite. De repente, as pessoas começam a não mais aceitar os alimentos que sempre tivemos no passado”, apontou.
Então, na reunião de ontem, nós sugerimos que seja solicitada à Secretaria de Saúde e aos pesquisadores informações sobre a saúde em Dourados, para que os dados sejam cruzados com o levantamento.
“Isso porque mesmo que os agrotóxicos tenham sido encontrados em dosagens ‘pequenas’, nós temos a experiência da homeopatia apontando que mesmo dosagens muito pequenas de substâncias fazem efeitos. Então, de 33 agrotóxicos em doses pequenas, a gente não tem estudos ainda que digam qual é o efeito disso tudo junto sobre a saúde humana. Então, essa é uma preocupação que traz para a gente para o bem ambiente, mas sobretudo para a população no estado de Mato Grosso do Sul”, pontuou a deputada estadual do PT.
Monitoramento dos Agrotóxicos
A pesquisa à qual a deputada se refere é foi desenvolvida pela Embrapa Agropecuária Oeste e é intitulada Monitoramento dos Resíduos de Agrotóxicos em Mato Grosso do Sul – Rio Dourados 2022. Conforme a Embrapa, um total de 90 amostras de água foi coletado em três locais do Rio Dourados durante o ano de 2022, em intervalos quinzenais ou mensais. Como resultado, observou-se a ocorrência de 33 diferentes agrotóxicos e/ou seus produtos de degradação, de forma individual ou em associação com outros, em pelo menos uma amostra analisada em 2022. Esses 33 compostos podem ser separados quanto a sua classificação: 16 herbicidas, 7 inseticidas, 3 fungicidas e 7 produtos de degradação. Os resultados da pesquisa podem ser conferidos pelo link
https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1153236/1/Monit-2-2023.pdf