Trinta condenados por crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes foram presos na Operação Araceli, desencadeada nesta terça-feira (18), em Campo Grande e Terenos.
De acordo com balanço divulgado pela força-tarefa, formanda pelo Ministério Público Estadual e Polícias Civil e Militar de MS, 20 foram presos hoje em cumprimento de mandados de prisão e outros 10 durante a fase de levantamento de campo.
Durante a manhã desta terça, equipes foram às ruas para cumprir 27 mandados de prisão e de busca e apreensão em vários bairros de Campo Grande e em Terenos.
Conforme a delegada-geral adjunta da Polícia Civil, Rozeman Geize Rodrigues de Paula, deste total, 20 foram efetivamente cumpridos.
“Só da Capital, tiramos [das ruas] 20 pessoas que estavam condenadas por crime sexual. São crimes muitas vezes de difícil prevenção, que ocorrem no ambiente familiar, e se acontece a impunidade ou a demora [da prisão], corre o risco dos fatos continuarem acontecendo”, disse a delegada.
Ainda segundo Rozeman, como a operação era para cumprir mandados contra pessoas já condenadas, e não investigadas, não havia necessidade de produção de provas, mas os policiais estavam preparados para prisões, caso fossem encontradas situações em flagrante.
Titular da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente, Marília de Brito Martins, afirmou que foi lavrado apenas um auto de prisão em flagrante, por posse de munição.

Força-tarefa foi composta pelo MPMS e Polícias Civil e Militar – Foto: Reprodução
Promotor da 69ª Promotoria de Justiça, Marcos Alex Vera, esclareceu que nem todos os presos estavam foragidos da Justiça e que estavam em liberdade devido aos trâmites do processo penal.
“Não há demora na prisão, a demora é no trâmite processual. Quando o mandado de prisão é expedido, pode ser cumprido a qualquer tempo e, nesse caso, optou-se por fazer uma força-tarefa. Os processos se delongam, mas uma vez transitado em julgado, é cumprido com a maior brevidade possível”, explicou.
O comandante da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul reforçou a importância da denúncia e divulgou os números 190 e 183, onde não há necessidade de identificação.
Conforme Marcos Alex Vera, em 2019 e 2020 foram instaurados 1.667 inquéritos policiais em Campo Grande.
Deste total, 78% tiveram a finalidade de apurar crimes contra a dignidade sexual envolvendo crianças e adolescentes como vítimas.
A maioria dos casos, 78%, para apurar crime de estupro de vulnerável, enquanto 8% foram por armazenamento e troca de imagens ou pedofilia na internet e 14% por outros crimes, como abandono e maus tratos.
Entre as vítimas, 96% são do sexo feminino e maioria com idade entre 6 e 13 anos.
Além disso, outro dado preocupante, segundo o promotor, é que 93% dos acusados têm vínculos familiares com as vítimas, seja pai, tio, primos ou avôs, o que reflete em uma dificuldade de denunciar.
“O problema não é tanto o sistema de investigação, o sistema de justiça, o problema é conscientizar e incentivar as pessoas a denunciar, sabendo da dificuldade, porque está denunciando um parente próximo, uma pessoa que em muitos casos atua como provedora da casa, é uma situação bastante delicada”, disse Marcos Alex.
A delegada Marília de Brito Martins ressaltou que a violência sexual deixa muitos traumas na vítima.
“Os danos psicológicos, como autoestima baixa, automutilação, baixo rendimento escolar, dificuldade de relacionamentos no futuro, traumas, são incalculáveis”, disse.
A delegada acrescentou que, em muitos casos, há um sofrimento causado pela inação de quem poderia proteger o menor, ou seja, quando o caso é relatado, mas o adulto responsável desacredita ou opta por não denunciar pelo fato do autor ser uma pessoa próxima.
Batizada com o nome de “Araceli” a Operação lembra o caso da menina brasileira Araceli Cabrera Sánchez Crespo, assassinada no dia 18 de maio de 1973, quando tinha apenas 8 anos.
O crime ocorreu na cidade de Serra, no Espírito Santo.
Araceli foi encontrada seis dias após o crime, com o corpo desfigurado por ácido e com marcas de violência e abuso sexual.
Os acusados pelo crime foram julgados e absolvidos, o processo foi arquivado pela Justiça, por conta deste caso, se instituiu o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
Por este motivo, hoje é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, data determinada oficialmente pela Lei 9.970/2000, em memória à menina Araceli Crespo. Com informações do Correio do Estado