
Mesmo com 1,5 mil consultas previstas, o programa Agora tem Especialistas atendeu cerca de 20 pessoas – Foto: Paulo Ribas / Correio do Estado
O início dos atendimentos da carreta da saúde da mulher do programa Agora Tem Especialistas, em Campo Grande, nesta sexta-feira (10), deveria marcar um avanço no acesso das mulheres aos exames de prevenção e diagnóstico precoce de câncer de mama e de colo do útero. Mas, em meio à crise na rede pública municipal, o que se viu foi um cenário de boicote e desorganização, com cerca de 20 atendimentos realizados entre as 1,5 mil consultas previstas para este mês.
Estacionada junto ao Hospital do Amor, na Avenida Thirson de Almeida, a carreta do Ministério da Saúde integra uma ação nacional do governo federal, realizada neste Outubro Rosa, que prevê mais de 130 mil procedimentos em todo o país. Na capital, a estrutura foi montada com equipamentos modernos e equipe multiprofissional, apta a realizar mamografias, ultrassonografias, biópsias e exames preventivos capazes de desafogar as filas de diagnósticos na capital.
Climatizado, o espaço oferece punção e biópsia de mama, colposcopia e consultas médicas presenciais e por telemedicina. Neste primeiro dia, o impasse sobre os atendimentos gerou uma espécide de “cabo de guerra” entre a administração municipal e o Ministério da Saúde. Conforme apurado pelo Correio do Estado, os atendimentos realizados nesta sexta-feira ficaram a cargo do próprio Hospital do Amor, que realizou os atendimentos de mamografia via SUS internamente.
Em nota, a Prefeitura de Campo Grande afirmou que os agendamentos para utilização da são realizados “conforme a disponibilidade de agenda” dos hospitais parceiros e que as pacientes atendidas são aquelas que já possuem solicitação registrada no Sistema de Regulação (Sisreg). Segundo o município, cabe à Secretaria Municipal de Saúde apenas “disponibilizar a lista dessas mulheres”.
O Ministério da Saúde, por sua vez, informou que o programa Agora Tem Especialistas disponibilizou a carreta e toda a estrutura de atendimento à regulação municipal, cabendo ao município aderir à iniciativa e realizar os agendamentos nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). O órgão federal reforçou que o serviço está à disposição de todos os pacientes que aguardam mamografias e exames preventivos, e que o encaminhamento poderia ser feito de forma imediata pelas unidades ou via Sisreg, sem necessidade de espera.
Cabe destacar que são as prefeituras que alimentam o Sisreg ao inserir as solicitações de consultas, exames e procedimentos para seus munícipes. Embora as prefeituras sejam as responsáveis por inserir os dados, o agendamento e a autorização dos serviços são realizados pelas Centrais de Regulação, que podem ser municipais ou estaduais, a depender da complexidade de cada atendimento.
Impasse
Em setembro, a prefeitura criou um Comitê Gestor de Saúde provisório, com validade de seis meses, após a saída da então secretária municipal Rosana Leite. A nova estrutura, montada às pressas, tem como objetivo “acompanhar rotinas e propor soluções” para a crise da pasta. A alternativa surgiu para estancar problemas locais como a falta de médicos, filas crescentes por exames e atrasos na regulação.
Programa federal
O Agora Tem Especialistas é uma das principais apostas do Ministério da Saúde para reduzir as desigualdades regionais e agilizar o acesso a consultas e diagnósticos especializados. A ação prevê a circulação de 150 carretas de atendimento pelo país até 2026, com investimento de R$ 18,9 milhões apenas nas ações do Outubro Rosa.
De acordo com o secretário-executivo da pasta e ministro em exercício, Adriano Massuda, o programa representa “a maior mobilização em defesa da saúde pública desde a pandemia”. “Iniciamos uma nova etapa, levando cuidado especializado até os lugares mais remotos do país, com foco na saúde das mulheres, que são prioridade da nossa gestão”, afirmou.
A carreta que chegou a Campo Grande é uma das 28 unidades móveis distribuídas neste mês em 21 estados e no Distrito Federal. O atendimento começou simultaneamente em 15 municípios de regiões de difícil acesso.
Enquanto outras cidades avançam, em Campo Grande o programa ficou travado pela má vontade e pela falta de articulação da gestão local, que sequer conseguiu garantir o fluxo de pacientes para uma estrutura pronta, gratuita e equipada. Fonte: Correio do Estado