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Ferrovia Malha Oeste terá nova chance de passar por revitalização em 2026

Depois de TCU inviabilizar reativação de parte da ferrovia, Ministério dos Transportes trabalha em novo edital para fevereiro

por Redacao
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Ferrovia cruza Mato Grosso do Sul de leste a oeste, mas trechos como este, em Miranda, estavam fora dos planos da Rumo – Foto: Aureo Audi/Gazeta do Pantanal

O Ministério dos Transportes está preparando para a fevereiro de 2026 uma nova modelagem de concessão para “salvar” a Malha Oeste. O plano que envolvia uma solução consensual para manter a concessionária Rumo no controle da ferrovia de 1,9 mil quilômetros entre Mairinque (SP) e Corumbá (MS) foi barrado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no mês passado.

O governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PP) confirmou a informação do ministro dos Transportes, Renan Filho, de que uma nova modelagem para a rodovia virá no ano que vem.

“O ministro Renan Filho me garantiu que terá uma modelagem nova para a ferrovia”, afirmou Riedel, que ainda lembrou que o contrato de concessão da Rumo para o trecho vence em julho do próximo ano e que, por isso, o governo federal terá de licitar a ferrovia.

Eduardo Riedel disse que o entendimento que o TCU teve para o plano de solução consensual e relicitação da Malha Oeste diferente do que teve para a BR-163. Em ambos os casos, a ideia era que o atual concessionário se comprometesse a fazer modificações viáveis no trajeto, para estender o tempo de concessão.

No caso da BR-163 deu certo. A antiga CCR Rodovias, atualmente Motiva Pantanal, aceitou o plano consensual feito a várias mãos, de governos e iniciativa privada, e continuou com a concessão.

Na Malha Oeste, o entedimento do TCU foi distinto, porque era pouco abrangente com toda a ferrovia, e se comprometia apenas em revitalizar trechos considerados viáveis. “Este entendimento diferente não tira a razão do TCU”, disse Riedel.

Eduardo Riedel disse ao Correio do Estado que o governo de Mato Grosso do Sul continua interessado que a concessão da Malha Oeste seja destravada e que os investimentos estejam de volta à ferrovia.

“Olha, se o Estado precisar apoiar de alguma maneira, buscar investidor, nós vamos fazer de tudo para ajudar”, disse o governador.

Para rejeitar o plano de revitalização da Malha Oeste, o Tribunal de Contas da União entendeu que recuperar a malha apenas entre as cidades de Ribas do Rio Pardo e Três Lagoas, para conectar a ferrovia com ramais privados que conectarão à Malha Norte – que também é operada pelo Rumo – seria uma medida que não contemplaria toda a concessão.

Cidades importantes como Campo Grande, Aquidauana, Corumbá, em Mato Grosso do Sul, e Araçatuba e Bauru, em São Paulo, ficariam de fora da nova concessão, e impedidas de serem revitalizadas por um novo investidor.

Para além disso, em Brasília se falou que a Rumo Logística não tinha interesse em investir em um trecho que passa ao lado de uma outra concessão viável, a Malha Norte.

Rejeição

No início do mês passado, o TCU rejeitou a solução concensual para a Malha Oeste.

O presidente do TCU, ministro Vital do Rêgo, determinou na ocasião o arquivamento do processo após acompanhar o voto do relator, ministro Aroldo Cedraz. O entendimento é de que a proposta não atendia à legislação e buscava manter a concessionária sem licitação, mesmo diante do histórico de descumprimento de metas e abandono da ferrovia.

Cedraz destacou que “o atual concessionário não poderia sequer requerer a prorrogação contratual, seja pela via ordinária ou pela via antecipada nos moldes da Lei nº13.448/2017, por não ter logrado atingir os indicadores de desempenho e de manutenção insculpidos no contrato”.

O acordo previa a recuperação e construção de 491 km da ferrovia, justamente nos trechos mais rentáveis, usados para o transporte de celulose e minério de ferro. Em contrapartida, a Rumo devolveria 1.600 km (81% da malha total), marcados por abandono e baixa utilização.

Entre as obras previstas estavam a recapacitação de 47 km entre Corumbá e Porto Esperança, a rebitolagem de 300 km entre Ribas do Rio Pardo e Três Lagoas, a construção de 55 km ligando a fábrica da Suzano ao contorno ferroviário de Três Lagoas, e um novo segmento de 89 km entre Três Lagoas e Aparecida do Taboado.

Para Cedraz, a proposta não configurava solução consensual, mas tentativa de burlar o processo de licitação.

“Isso me permite concluir que, na verdade, não se trata da resolução de solução conflituosa, permitida pela IN TCU 91/2022, mas, sim, de burla à licitação de um novo projeto de infraestrutura ferroviária, em clara afronta à Constituição Federal, art. 37, inciso XXI, e art. 175, assim como às Leis de Concessão e de Licitação”, afirmou.

O ministro acrescentou que a medida permitiria a permanência da mesma concessionária, sem cumprir os requisitos legais por mais 30 anos, impedindo a participação de novos interessados no setor ferroviário.

Abandono

A rejeição também foi sustentada pelo histórico de problemas na Malha Oeste. Em auditorias, a ANTT registrou dormentes deteriorados, bueiros rompidos, prédios abandonados e invasões na faixa de domínio, além de passagens clandestinas, conforme já noticiou o Correio do Estado. Em fiscalização realizada em 2024, no trecho entre Campo Grande e Três Lagoas, a concessionária foi multada em R$ 2,1 milhões.

Em documento anterior, o TCU já havia alertado o Ministério dos Transportes e a ANTT que decisões sobre prorrogação ou relicitação de malhas deveriam considerar “o histórico de cumprimento das metas de produtividade e segurança, a elevada inadimplência e o alto índice de abandono de trechos ferroviários”.

Segundo o TCU, os problemas se repetem não apenas na Malha Oeste, mas também em outras concessões.
Por isso, a Corte defende que os processos de renovação levem em conta riscos ao serviço público e barreiras à entrada de novos operadores no setor.

Ele avaliou que a proposta permitiria a manutenção da mesma concessionária, que atualmente não preenche os requisitos para prorrogar o contrato, por outros 30 anos, em detrimento da possibilidade de participação de novos interessados na exploração da malha ferroviária.

Com os argumentos de Cedraz, o presidente do colegiado, no dia 11 de junho, determinou “o arquivamento destes autos de solicitação de solução consensual (SSC)”, justificando que o pedido não atende os parágrafos 1º e 3º do artigo 6º, e do artigo 15 da Instrução Normativa TCU 91/2022, que dão autonomia para os relatores ratificarem ou não as propostas.

Saiba

No mês passado, o Tribunal de Contas da União (TCU) rejeitou acordo consensual com a Rumo e a Agência Nacional do Transporte Terrestre. A Ferrovia Malha Oeste está praticamente desativada há mais de uma década em Mato Grosso do Sul. Fonte: Correio do Estado

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