
Senadora Tereza Cristina, durante audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado – Foto: Andressa Anholete/Agência Senado
Um dia depois de ter sido criticada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a senadora Tereza Cristina (PP-MS) saiu em defesa da Lei de Reciprocidade, matéria da qual foi relatora durante a tramitação no Congresso Nacional. Segundo ela, a lei deve ser usada apenas como “último recurso”, defendeu.
A fala de Tereza, em defesa da lei que relatou, ocorreu na Comissão de Relações Exteriores do Senado, promovida por outro senador sul-mato-grossense, Nelsinho Trad (PSD).
A Lei de Reciprocidade agora pode ser um dos instrumentos do governo brasileiro para se defender do tarifaço praticado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de 50% aos produtos brasileiros, sob a justificativa de um déficit comercial inexistente dos EUA com o Brasil e do que ele chama de “caça às bruxas” a Jair Bolsonaro — em vias de ser condenado por tentativa de golpe de Estado.
Tereza, que é vice-presidente da comissão, defendeu equilíbrio. “Precisamos, nesse momento, de equilíbrio, pragmatismo, união em torno do interesse nacional. A crise comercial deflagrada recentemente exige atenção, mas também cautela”, afirmou a senadora, que foi a relatora da lei da reciprocidade econômica.
“A hora é de união; não de divisão”, disse. “O Brasil é maior do que qualquer crise, e o Senado Federal tem papel fundamental nesse momento como mediador, como articulador e defensor da nossa soberania, da nossa economia e dos muitos trabalhadores que podem perder os empregos se não lograrmos êxito nessas negociações”, acrescentou.
Um dia antes da defesa de Tereza à lei da qual foi relatora — redigida no contexto de proteger produtos brasileiros, sobretudo os do agronegócio, contra tarifas de organismos como a União Europeia —, Eduardo Bolsonaro, que está em autoexílio nos Estados Unidos e tem sido apontado como um dos articuladores das sanções anunciadas por Donald Trump, criticou a Lei de Reciprocidade e ainda citou a senadora sul-mato-grossense.
“O Congresso aprovou uma lei inócua. E me causa estranheza gente da direita apoiar o projeto de lei da reciprocidade, porque ainda dá a oportunidade de o Lula dizer que está agindo em nome das instituições brasileiras, do povo brasileiro inteiro, porque foi um projeto aprovado com o apoio de muita gente da direita. Um projeto que teve a iniciativa da senadora Tereza Cristina”, disse Eduardo Bolsonaro em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
Críticas a Lula
Após afirmar que o momento é de união, a senadora, ex-ministra da Agricultura de Jair Bolsonaro, não poupou ataques ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Criticou a postura do governo em relação aos EUA nos fóruns internacionais. “Não vamos olhar o passado: eu tenho certeza de que o governo errou muito, errou muito no protagonismo equivocado que o Brasil e o presidente Lula quiseram dar ao BRICS”, destacou.
“Falar de uma segunda moeda interblocos, que não o dólar, é um posicionamento político totalmente equivocado, mas nós, agora, como brasileiros, precisamos trabalhar em conjunto, unidos, para que possamos minimizar esse desastre que serão essas tarifas”, completou.
A ministra não comentou um dos fundamentos da carta de Trump, que é o que ele chama de “caça às bruxas” a Jair Bolsonaro.
Horas antes da reunião na Comissão de Relações Exteriores, o procurador-geral da República protocolou, no processo que tramita no Supremo Tribunal Federal, as alegações finais em que defende a condenação do ex-presidente por: liderança de organização criminosa armada, com os agravantes de uso de arma de fogo e de participação de funcionário público; abolição violenta do Estado Democrático de Direito; tentativa de golpe de Estado; dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima, no 8 de Janeiro; e deterioração de patrimônio tombado, também pelo 8 de Janeiro.
Somadas, as penas pelos crimes pelos quais Jair Bolsonaro é acusado podem chegar a 43 anos de reclusão. Fonte: Correio do Estado