Sobre sonhos, conexões e pessoas
Falar da Organização Fraternidade Sem Fronteira (OFF) é concretizar o sentido dessas três palavras e claro, falar um pouco da minha historia.
Depois de dois anos e alguns meses vivendo fora da minha ?zona de conforto? acho que posso dizer que tomei consciência de pelo menos 1% do essencial que a vida traz de novo todos os dias.
Um dos mais importantes aprendizados que tive, diz respeito à solidão, que como conceito superficial, talvez nem exista. Outro foi que não importa o que acreditamos ou veneramos, se é uma ou varias divindades ou mesmo o mais novo carro do ano, o fato é que todos nós carregamos nossas crenças, experiências, que se refletem de dentro para fora, quiçá, nas costas se são mais pesadas, mas, particularmente, gosto de pensar que é no olhar. E isso que nos dá orientação no mundo, nos define e se relaciona diretamente com as nossas experiências de vida e em especial, aos encontros com os personagens do nosso filme que sempre estão presentes nas nossas vidas, indiferentemente do lugar onde estamos.
Descobri também que em algumas pessoas estas experiências movidas por um combustível especial geram uma chispa no olhar, que as destacam na multidão, que as fazem seguir pelo mundo enfrentando seus monstros internos e serem senhores da alegria de quem está presente. Hoje já sei o nome do agente dessa reação química, o combustível é o amor que gera a chispa também conhecida como sonho, e isso é o cimento da OFF. Na busca de reativar essa ação em mim, embarquei e fui parar em Moçambique sem idealizar praticamente nada do que me esperava.
Ainda dentro do avião, abri a janela e fui presenteada com um céu deslumbrante que me acompanhou todos os dias, primeiro, um sol grande e laranja, depois, o meio-dia amarelo das savanas africanas e por fim, a escuridão da noite salpicada de estrelas, quase acessível ao toque. A partir daí, tive a certeza que estava na África, e que de alguma maneira esse presente se relaciona diretamente com o caráter nobre dos africanos. Uma nobreza marginada que sobrevive na terra onde tudo começou.
As pessoas; sempre tive essa sensação que a vida fala por meio dos sinais que são emitidos a todo o momento, como uma emissão radiofônica que resulta em uma experimentação do viver e ganha sentido com os encontros de indivíduos que de alguma maneira estão conectados e foi assim, que conheci o Wagner, coordenador da OFF, que movido por um sonho chegou a Moçambique, Armando Banzé, o guerreiro que não escolhe o campo de batalha, a tia Dorita, a mãezinha de sorriso doce que cuida das crianças da OFF, a tia Judite, a paz personificada, a tia Rita, a eterna menina, a Monica, forte e sensível, o João, que mostra que com um sorriso a vida pode ser bem melhor. O menino Abraão, que nos ensina que mesmo com as dificuldades físicas é possível se superar e amar, a Zilene, a criança do amor sincero, o Jabo, o pequeno sábio do grande sorriso e dos olhos brilhantes, entre outros, órfãos de familiares que morreram com AIDS e que mostram que mesmo com todos os problemas, dentro de cada um de nós existe um mundo e que sempre é possível amar indiferente das nossas dores, nossas historias de vida e do contexto em que estamos inseridos.
Hoje sei que faço parte de tudo isso e que mesmo não estando lá, levo essas pessoas comigo e agora, quando me olho no espelho, consigo identificá-las no meu olhar e isso me dá coragem e alegria para olhar a vida nos olhos. Por este motivo, além de compartilhar, meu objetivo com esta historia é pedir ajuda para as crianças da OFF, a partir da certeza de que estamos conectados por meio de um sonho comum de um mundo melhor e mais digno, onde o ser humano ainda é a prioridade.
Obrigado,
Nataly Foscaches