
Presos do Comando Vermelho que estavam na Gameleira II chegaram a instituir lideranças da facção em Mato Grosso do Sul – Foto: Paulo Ribas
A identificação de quatro celulares em uma cela da Penitenciária Estadual Masculina de Regime Fechado da Gameleira II, há três anos, mostra que desde então a facção criminosa Comando Vermelho (CV), que nasceu no Rio de Janeiro, busca se estabelecer em Mato Grosso do Sul e rivalizar com quem atualmente “manda” no crime no Estado, o Primeiro Comando da Capital (PCC).
A briga pelo território em Mato Grosso do Sul é uma das preocupações do governador Eduardo Riedel (PP), que participou na quinta-feira, no Rio de Janeiro, de uma reunião com outros governadores de direita para tratar sobre segurança pública.
De volta a Mato Grosso do Sul, Riedel afirmou que entre as ações que devem ser feitas está o aumento da integração entre as polícias, tanto estaduais como federais, para se criar um conjunto de políticas públicas e fazer um enfrentamento contra esses grupos que já dominam territórios no Estado.
“A gente tem um problema de segurança pública seríssimo no Brasil. Eu fui ao Rio de Janeiro entender um pouco do que está acontecendo, às vezes, a gente acha que está muito distante, porque está no Rio, em uma comunidade de lá, muito distante, mas está aqui dentro do Estado, aqui está o Comando Vermelho, aqui está o PCC, aqui tem uma fronteira que é rota de ilícitos, como drogas e armas, então a conexão é direta. No presídio federal, tem membros de facção e estão vindo mais”, declarou o governador em entrevista nesta sexta-feira.
O estabelecimento do Comando Vermelho em Mato Grosso do Sul já era apontado desde 2022, em investigação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), após quatro celulares serem encontrados em celas do presídio Gameleira II.
Nesses aparelhos, conforme a identificação da investigação, foi identificada a criação de uma cúpula para liderar a facção criminosa em Mato Grosso do Sul, com 13 nomes.
“Os internos estavam se articulando para fixar neste Estado uma base territorial da organização criminosa e realizar a sua expansão, de modo a exercer forte influência nos presídios locais, aumentando a prática das modalidades criminosas que lhes favorece e até mesmo para rivalizar com a organização criminosa PCC, aquela que tem maior abrangência e domínio em Mato Grosso do Sul, tendo integrantes em quase todas as comarcas”, informou trecho da investigação.
“Apesar de o Comando Vermelho já atuar há tempos em Mato Grosso do Sul, notadamente devido à sua localização geográfica, que serve como rota do tráfico de drogas e armas para o estado do Rio de Janeiro e regiões Norte e Nordeste do País, principalmente por fazer fronteira com Paraguai e Bolívia, não se tinha conhecimento, até a presente investigação, sobre um movimento de efetiva organização da facção em nosso território”, completou.
Esse trecho mostra que, desde 2022, a facção vem tentando ganhar território no Estado, que faz fronteira seca com Paraguai e Bolívia, dois países com grande histórico de produção de drogas.
Conforme apontou a investigação na época, o chefe do grupo seria um detento carioca, que atualmente cumpre pena em regime semiaberto no Rio de Janeiro.
Porém, o segundo nome da lista, que era apontado como “vice-presidente”, era natural do Mato Grosso e, enquanto a investigação ocorria, ele seguia na Gameleira, em Campo Grande.
A investigação aponta que a entrada desses aparelhos teria sido facilitada por servidores do presídio, visto que a penitenciária era considerada uma das mais rígidas do Estado, e até por isso o caso era investigado pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS).
“Surgindo, assim, a fundada dúvida de que os aparelhos de telefonia tenham sido introduzidos no estabelecimento prisional com o auxílio de servidores lotados naquela unidade prisional, haja vista que, ao menos a princípio, não haveria outra forma dos objetos terem sido inseridos”, disse outro trecho da investigação, que pediu a quebra de sigilo telefônico e bancário dos investigados.
GUERRA NA FRONTEIRA
Este ano, após meses de “paz” entre Comando Vermelho e PCC, as forças de segurança pública de Mato Grosso do Sul voltaram a registrar tenção entre as facções, principalmente nas fronteiras do Estado, como mostrou reportagens do Correio do Estado.
Coronel Sapucaia, Coxim e Ponta Porã foram palco de algumas execuções este ano na briga entre as facções.
Segundo o titular da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Antônio Carlos Videira, apesar de o PCC dominar a maior parte do Estado, já existem “ilhas” em que a dominância é do CV, como é o caso de Coxim e Coronel Sapucaia, enquanto o PCC está em quase todas as cidades da fronteira com o Paraguai.
PRESÍDIO FEDERAL
Já dentro do presídio federal de Campo Grande a situação é diferente. Por ser um estado de dominância do PCC, apenas membros do Comando Vermelho são mandados para cá, como é o caso de Márcio Santos Nepomuceno, o Marcinho VP.
Como mostrou o Correio do Estado, a penitenciária deverá receber membros da facção que estavam presos em Bangu 3 e que serão colocados no sistema penal federal.
*SAIBA
Segundo a investigação, o CV tem dominância nos estados do Acre, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Amazonas, Alagoas, Ceará, Distrito Federal, Tocantins e Mato Grosso. Fonte: Correio do Estado
