
O javaporco tem o hábito de fuçar, eles revolvem a terra, provocando assoreamento e contaminação dos cursos d’água durante a busca por alimento – Foto: Reprodução/PMB
O município de Bonito, paraíso das águas cristalinas e referência em turismo, tem realizado reuniões de um grupo de trabalho interdisciplinar para tratar do impacto dos javalis no ecoturismo, devido à presença do animal exótico, que tem provocado, entre outras coisas, a destruição de nascentes e banhados.
O avistamento da espécie exótica, conforme explicou o secretário de Meio Ambiente de Bonito, Thyago Sabino, ao Correio do Estado, ocorre em todas as localidades do município, segundo relatos de moradores repassados a pasta.
Muito além do prejuízo à lavoura, a preocupação está em torno do turismo da região, conhecida internacionalmente pela beleza das águas cristalinas. Esse tem sido um dos temas debatidos pelo grupo de trabalho, pelo Conselho de Meio Ambiente (COMDEMA) e pelo Conselho de Turismo (COMTUR).
Os relatos e levantamentos têm sido feitos em parceria com produtores rurais, mas a maior preocupação é a presença de animais em banhados do Rio da Prata e do Rio Perdido, onde foram registradas imagens em vídeo (assista abaixo).
“Há relatos de avistamentos e danos em todas as regiões (norte, sul, leste e oeste). A capacidade de adaptação ambiental desta espécie é gigantesca, o que favorece sua ocupação em todo o território”, explicou o secretário.
“Há relatos de avistamentos e danos em todas as regiões (norte, sul, leste e oeste). A capacidade de adaptação ambiental desta espécie é gigantesca, o que favorece sua ocupação em todo o território”, explicou o secretário.
Risco para o ecoturismo
O município, conhecido pelas águas cristalinas, depende diretamente da preservação dos banhados, que funcionam como filtros naturais, regulam o fluxo de água e são responsáveis diretos pela transparência, um dos cartões-postais de Bonito.
Ainda sem muitos dados concretos, devido ao grupo ter sido formado há pouco tempo, o secretário acredita que logo haverá um relatório específico com informações sobre a presença do animal, também conhecido como javaporco, em pontos turísticos.
Com isso, segundo explicou, será possível traçar estratégias de enfrentamento ao problema, classificado por ele como de alta relevância para a preservação dos ambientes úmidos.
“Destaca-se como de alta relevância a perturbação e destruição de ambientes úmidos, uma vez que a grande maioria dos rios da região nasce nas áreas úmidas de banhados. Com relação a casos extremos de encontros e acidentes com pessoas em ambiente natural, destaco que não houve nenhum registro desse tipo de situação até o momento”, pontuou.
Conforme adiantado pelo Correio do Estado, em levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em maio de 2025, verificou-se aumento de propriedades cadastradas no município de Bonito, onde a presença do javali pode colocar em risco o turismo local.
Foram cadastradas 883 propriedades no período entre 2024 e 2025. Por meio desse cadastro, esses locais entram no sistema e podem receber controladores para realizar o manejo do javali, cujo abate é permitido no país desde 2013.

Bonito conhecido pelas águas cristalinas, depende diretamente da preservação dos banhados, que funcionam como filtros naturais – Foto: Reprodução/Ministério do Turismo
Morte das nascentes
O professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), do Instituto de Biociências, Marcelo Bordignon, explicou que o javali procura preferencialmente regiões onde pode encontrar lama, como nascentes de rios e banhados.
Nesses locais, o animal exótico utiliza a lama para se livrar de parasitas que ficam no pelo.
“Eles vão a esses locais, onde geralmente há nascentes e banhados, locais que acumulam água, mas que, eventualmente, acaba chegando a algum córrego, que depois vai fornecer água para os rios”, disse o professor.
Segundo o especialista, os banhados e as nascentes possuem vegetação arbórea adaptada a áreas úmidas.
“Nesses locais de nascentes, que são essas áreas um pouco mais baixas, um solo encharcado onde você afunda o pé, como se a água estivesse aflorando do solo. Isso é chamado de área de nascente. Esses locais, os javalis adoram, porque é onde eles vão ficar rolando e pisando nesse solo.”
Os animais acabam matando as plantas, e o professor destacou que o solo começa a ficar exposto, impedindo que a vegetação retorne. O problema ocorre quando há chuvas pesadas de verão sobre esse solo que começa a ser “lavado” pela água.
Com o tempo, apontou o professor, pode ocorrer a morte da nascente e, eventualmente, a sujeira desce, acarretando o turvamento da água.
“Eles estragam a nascente e isso provoca o assoreamento do rio. Então, eles podem provocar a degradação total de uma nascente.”
Entenda o comportamento
“Esses animais são onívoros: não comem só vegetação, eles comem tudo o que encontrarem. Mas costumam comer muitas raízes e larvas de insetos. Por isso, costumam revirar a terra, ficam revirando com o focinho para ver se encontram alimento, principalmente frutos que caem e raízes.”
Estragos causados
A presença do animal exótico, que tem causado problemas em todo o país, foi tema, em agosto, de audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, na qual especialistas de diversos órgãos debateram o impacto ambiental.
Nos recursos hídricos, o o resultado da presença do javaporco apontado na comissão ocorre em nascentes, matas ciliares e áreas alagadas. Os animais, que andam em bandos, reviram o solo, o que causa:
processos de erosão;
assoreamento de cursos d’água;
contaminação das águas.
Devido ao hábito de fuçar, comportamento característico da espécie, eles revolvem a terra, provocando assoreamento e contaminação dos cursos d’água durante a busca por alimento. Fonte: Correio do Estado