
Jorge Avalo, de 60 anos, que trabalhava como caseiro no local há 16 anos – Foto: Reprodução
Em 2025, ocorreu um trágico ataque de onça-pintada em uma área isolada da região de Touro Morto, a aproximadamente 150 km de Miranda, Mato Grosso do Sul, que resultou na morte do caseiro Jorge Avalo. As investigações apontaram para a prática de “ceva” (oferta de alimento para atrair animais) no local, o que é crime ambiental e pode ter alterado o comportamento do animal, levando-o a se aproximar do local de trabalho da vítima. A onça foi capturada pela Polícia Militar Ambiental e levada para reabilitação, com a possibilidade de não retornar à natureza devido ao seu estado de saúde e ao comportamento atípico.
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Vítima:
Jorge Avalo, de 60 anos, que trabalhava como caseiro no local há 16 anos.
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Local:
Uma área de mata fechada, de difícil acesso, conhecida como Touro Morto, no município de Aquidauana, mas que fica a cerca de 150 km de Miranda.
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Data:
O ataque ocorreu em 21 de abril de 2025, e o corpo da vítima foi localizado no dia seguinte.
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Ações:
As buscas pelo corpo contaram com helicópteros e drones. Pegadas do animal e restos mortais foram encontrados, incluindo partes do corpo arrastadas pela onça em uma toca próxima.
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Causa:A Polícia Militar Ambiental apontou a prática de “ceva” na fazenda como uma das possíveis causas do comportamento agressivo da onça, que atraiu o animal para a área onde o caseiro trabalhava.
Workshop em Campo Grande
O I Workshop Internacional Conflitos com Grandes Felinos, evento inédito no Brasil, ocorre entre os dias 26 e 27 de agosto. Durante o encontro, renomados especialistas debaterão os ataques de onças-pintadas registrados no primeiro semestre de 2025.
Neste ano, foram registrados episódios envolvendo o maior felino da América Latina em cidades como Aquidauana (MS), Corumbá (MS) e Campinaçu (GO), que pautaram o noticiário e tiveram ampla repercussão pública.
Os incidentes reforçaram a necessidade do debate, ainda pouco aprofundado em nossa sociedade, sobre estratégias de coexistência segura entre seres humanos e grandes predadores da fauna.
Apesar de ocorrências como essa serem raras no Brasil, os episódios recentes deixaram claro que, embora o país registre menos casos do que na Índia e na África do Sul, a proximidade da presença humana em áreas de mata pode resultar em encontros indesejados, o que exige: ações preventivas; políticas públicas; campanhas de educação ambiental.
O workshop discutirá esses e outros temas na sede da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), em Campo Grande. A abertura contará com a presença do governador Eduardo Riedel (PP) e do presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, que mediará um dos painéis.
Pesquisadores
O evento reunirá nomes de destaque no cenário internacional: Dr. Craig Packer (EUA), apontado como o maior especialista em leões do mundo, fundador do Lion Research Center da Universidade de Minnesota, onde é professor, e do projeto Serengeti Lion Project, na Tanzânia;
Dra. Krithi Karanth (Índia), diretora-executiva da CWS (Índia) e uma das maiores especialistas em tigres do mundo, com foco em conflitos entre humanos e grandes carnívoros;
Agustín Iriarte (Chile), biólogo especializado em ecologia e conservação de mamíferos sul-americanos, com mais de 40 anos de experiência com pumas e conflitos.
A troca de experiências internacionais proporcionará melhor entendimento sobre como lidar com a situação em Mato Grosso do Sul.
Serão abordados temas como manejo de conflitos, protocolos emergenciais aplicados em vilarejos da Índia e estratégias usadas em reservas ambientais dos Estados Unidos.
Além disso, o workshop fomentará debates sobre soluções adaptadas ao contexto brasileiro, como: prevenção de ataques sem o recurso do abate dos animais; inclusão de saberes indígenas, de produtores rurais e de comunidades tradicionais;
utilização de dados de ataques para sistematizar e transformar ocorrências em ações preventivas; o papel da imprensa na percepção de riscos, sem gerar alarmismo na sociedade.
Com base em eventos e fóruns internacionais, o workshop traçará iniciativas de prevenção fundamentadas na ciência e voltadas aos desafios da convivência entre seres humanos e grandes predadores.
“Os últimos incidentes no Brasil trouxeram à tona a falta de um protocolo de resposta em casos envolvendo humanos e predadores, assim como a ausência de uma política pública que integre instituições governamentais, sociedade civil e academia na mitigação e prevenção desses conflitos. A coexistência entre seres humanos e grandes predadores não é novidade, e a possibilidade de trazer exemplos de fora, onde esse convívio é mais intenso, pode nos ajudar a encurtar o caminho para o sucesso”, avalia Gustavo Figueirôa, diretor de Comunicação do Instituto SOS Pantanal e um dos organizadores.
O evento é promovido pelo Instituto SOS Pantanal, Associação Onçafari, Instituto Onça Pintada e Instituto Homem Pantaneiro.
O encontro reunirá especialistas do Brasil, Índia, África, Bangladesh, Chile, África do Sul e Estados Unidos, com experiências diversas, para discutir estratégias e protocolos que garantam tanto a segurança das pessoas quanto a conservação das espécies, diante do crescimento de conflitos envolvendo grandes felinos no Brasil.
Público-alvo
O workshop é destinado a gestores públicos, pesquisadores, ONGs, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e forças de segurança como a Polícia Militar Ambiental, Polícia Federal, Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal, além de profissionais da saúde, comunidades locais e jornalistas.
A programação inclui painéis técnicos, debates e oficinas. O objetivo é reunir ciência, gestão territorial, cultura e comunicação, sempre apoiados em dados científicos e no respeito ao saber das populações locais.
Entre as metas do evento estão: elaboração de um documento técnico com recomendações em âmbito nacional, com propostas viáveis e baseadas em dados para prevenir ataques, melhorar a convivência e embasar políticas públicas; produção de artigos técnicos e científicos a partir dos debates e apresentações, com foco em dados comparativos e soluções baseadas em evidências; criação e promoção de campanhas de educação ambiental, elaboradas pelas equipes de comunicação das organizações promotoras, para ações formativas em escolas públicas e privadas, comunidades locais e redes sociais; fortalecimento de políticas públicas e protocolos de emergência, com subsídios técnicos e articulações para criação de protocolos interinstitucionais de resposta, elaborados por um comitê integrado por órgãos como Imasul, ICMBio e Defesa Civil; redação da Carta de Diretrizes para a Convivência com Grandes Felinos, documento colaborativo construído ao longo do evento, que será assinado por participantes e instituições presentes, estabelecendo compromissos de conservação e segurança.
“A realização desse primeiro workshop internacional é uma grande oportunidade de reunir diferentes expertises e realidades para a construção de propostas que auxiliem uma relação mais segura e respeitosa com grandes felinos. O desenvolvimento de um documento técnico, com um olhar coletivo para mitigação, prevenção e diretrizes de convivência com onças-pardas e onças-pintadas, é fundamental no Brasil, país que desempenha papel-chave para a conservação dessas espécies”, conclui Mario Haberfeld, CEO e fundador da Associação Onçafari.
Em 2025, ocorreu um trágico ataque de onça-pintada em uma área isolada da região de Touro Morto, a aproximadamente 150 km de Miranda, Mato Grosso do Sul, que resultou na morte do caseiro Jorge Avalo.As investigações apontaram para a prática de “ceva” (oferta de alimento para atrair animais) no local, o que é crime ambiental e pode ter alterado o comportamento do animal, levando-o a se aproximar do local de trabalho da vítima. A onça foi capturada pela Polícia Militar Ambiental e levada para reabilitação, com a possibilidade de não retornar à natureza devido ao seu estado de saúde e ao comportamento atípico. Fonte: Correio do Estado

