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Reforma de canaviais sem revolvimento de solo resulta em produtividade maior

por Redacao
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Em experimento de longa duração em áreas de reforma de canavial do Instituto Agronômico (IAC), cerca de 30 anos de pesquisa, o último preparo do solo foi realizado em 1993, em latossolo de 50% de argila, com quatro doses de calcário e, desde então, não houve mais preparação do solo nem para soja nem para cana-de-açúcar. Como resultado, a cana-de-açúcar sofreu menos no tempo do que a soja. “Para a soja, tivemos que passar por uma curva de aprendizagem, porque as máquinas no início não eram ajustadas”, explicou o pesquisador científico Denizart Bolonhezi (foto). E foram de 8 a 10 toneladas a mais de cana por hectare (TCH) onde não é feito preparo do solo em relação ao solo que está sendo preparado sempre na reforma.

Essas e outras informações foram compartilhadas com os mais de 170 inscritos no 3º evento do 9º Ciclo de Seminários Agrícolas CanaMS 2024, realizado em 15 de agosto, na Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS). Ele falou sobre a “Agricultura conservacionista e regenerativa na reforma dos canaviais”. O CanaMS é realizado pela Embrapa Agropecuária Oeste e TCH Gestão Agrícola e conta com o apoio da Biosul e Sulcanas.

O desafio no mesmo experimento era aumentar a produtividade da soja que, na média, em São Paulo, era 56 sc/ha. Usaram haste escarificadora no lugar do disco duplo na semeadura mais aplicação de gesso baseado no teor de argila, no Plantio Direto da cana. A biomassa de raiz cresceu e aumentou a produtividade da soja para 72 sc/ha. “À medida que se melhora a qualidade do ambiente, a variedade fica mais responsiva. Assim como acontece com a cana. Tem que explorar mais o potencial genético”, indicou Bolonheze.

“Todo engenheiro agrônomo sabe que o plantio com grade, arado, pulverização do solo e preparo profundo são desagregadores de solo, principalmente em culturas tropicais. Isso gera compactação do solo, aumenta erosão, diminui resiliência e reduz supressividade”, alertou Bolonhezi.

Foto: Divulgação

Ele informou que o prognóstico da próxima safra em área de cana-de-açúcar serão, no mínimo, 894 mil hectares de reforma de canavial, referente a 209 usinas. “O setor quer deixar 42% sem plantar nada. O que está acontecendo? Por que o setor está indicando que quer deixar em pousio? Mix de plantas de cobertura crescendo, opção interessante, mas muito mal estudada ainda e amendoim diminuindo. Existe vida além da cana”, enfatizou.

Outro resultado positivo foi em um experimento, em 2022, na qual a cana planta em Plantio Direto obteve 15 toneladas a mais por hectare em relação à área que foi gradeada e subsolada. “Isso tem correlação direta com a raiz, que cresceu mais. A matéria orgânica no solo faz a diferença. O resultado geral deste projeto é que, para cada quilo a mais de matéria seca de raiz onde se tem cana, ganha-se 10 kg de colmo por hectare”, disse o pesquisador científico.

Uma questão pertinente em reforma é a erosão. Em estudo do IAC, em 1982, mostrou-se que 49 toneladas de solo é perdido em área de cana justamente na reforma. “Em função da desinformação, a cana crua que deveria privilegiar e reduzir as perdas de solo, temos visto o contrário. Os terraços estavam dimensionados para cana e a palha estava protegendo. Retiro tudo isso para fazer plantio convencional para soja e a catástrofe aparece”.

Manter o solo permanentemente coberto, com mínimo de revolvimento e de tráfego controlado faz parte dos preceitos da agricultura regenerativa. “Isso consegue dar sobrevida ao sistema, o sistema fica mais estável, menos impacto e mais insumo interno. Ao fazer rotação de culturas, está turbinando a atividade biológica do solo (raiz de soja, crotalária spectabilis, amendoim no sistema).

Os benefícios para cana são diversificação da economia regional, conservação do solo e da água, maior tolerância em períodos de seca, 20%, em média, de incremento de produtividade, redução de custos, fornecimento de nitrogênio e ciclagem de nutrientes, acréscimo de 1 tonelada de estoque de carbono no solo por hectare/ano, controle dos nematoides, aumento da supressão de pragas e redução de herbicidas.

Plantar cana em cima de cana sem preparo não é novidade. O Plantio direto ficou muito alicerçado em uso de glifosato. É mais um plantio sem preparo do que um sistema integrado de produção. Isso vale para os 45 milhões de hectares de soja plantados no Brasil. É frágil.

O que define o sucesso do plantio de soja em palha de cana é saber cultivar com inserção alta de resíduo de herbicida, uso de cultivares resistentes a Pratylenchus, como a cultivar de soja BRS 573 (da Embrapa), é importante fazer a co-inoculação, e utilizar cultivares com sistema radicular mais profundo para conseguir semeadura adequada.

Pesquisas de amendoim sobre palhada, entre 2014 e 2019, foram realizadas oito experimentos. Em ensaio de 2019, em uma área de 25 ha, foram 95 sacas a mais onde deixou o amendoim plantado na palha. Na cana planta, não viram houve aumento nem diminuição na produtividade.

Se a usina optar por adubos verdes, a Crotalaria juncea também pode ser semeada de forma direta. “Responde em produtividade de biomassa e depois entrega maior produtividade em cana. Em um ensaio realizado entre 2005 e 2009 em uma usina, houve ganho de 18 toneladas de cana planta por hectare”, relatou Bolonheze.

Mais palestras

Carolina Ruv Lemes Gonçalves Mendes, coordenadora técnica da UnionAgro, falou sobre “Nutrientes estruturais para cana-de-açúcar”; o tema “Inovações CTC: do manejo à variedade” foi ministrado por Luis Fernando Santos Junior, desenvolvedor técnico de mercado, região oeste SP e MS, do CTC. A palestra “Inovação no manejo de Sphenophorus levis” foi de responsabilidade de Ivandro Manteufel, representante técnico de vendas especialista em cana-de-açúcar da Bayer; o tema “Plantio de composto organomineral e bioinsumos” foi ministrado por Paulo Inácio, coordenador de plantio da Atvos. Por último, Flavio Hiroshi Kaneko, professor adjunto da UFTM (Campus de Iturama), falou sobre Sistema de produção soja/cana-de-açúcar no Brasil.

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