Um britânico está a pouco mais de uma semana de terminar uma caminhada de quase dois anos e meio em que terá percorrido, a pé, a trajetória do rio Amazonas da nascente à foz.
Ed Stafford, 34, de Mowsley, em Leicesteshire, no centro da Inglaterra, começou sua jornada de 9.5000 km em 2 de abril de 2008 no monte Mismi, no Peru, e espera terminar no próximo dia 9, na costa paraense.
“Todo mundo me disse que era impossível, e isso me fez querer provar que eles estão errados”, disse o ex-capitão do Exército britânico, que ajudou a missão da ONU no Afeganistão e aconselhou a BBC na produção de documentários sobre meio ambiente.
A viagem tem como objetivo chamar a atenção da comunidade internacional para a Amazônia. A aventura pode ser acompanhada pelo blog Walking the Amazon, que Ed atualiza através de um latpop, e de uma conexão de internet via satélite, e pelo serviço de microblogging Twitter.
Em seu último post, Ed contou como seu companheiro de viagem matou uma cobra de três metros e corpo amarelado que atacou a dupla quando eles tentavam se localizar na floresta.
Em outros posts, relatou encontros com enguias elétricas, jacarés, formigas gigantes e escorpiões, falou de horas abrindo caminho entre a vegetação cortante, contou como contraiu leishmaniose e, como não podia deixar de ser, notou a curiosidade que gerava nos vilarejos por onde passou.
“Levantar todo dia e vestir roupas molhadas é difícil. O desafio, tanto mental quanto físico, é o mais cansativo. Sou muito humilde em relação a quanto tive de contar com outras pessoas e me beneficiei imensamente da generosidade das pessoas que encontrei no caminho”, escreveu.
Destes encontros, o mais duradouro tem sido com o peruano Gadial Sanchez Rivera –o Cho–, que desde então se tornou parceiro inseparável de Ed na aventura.
Os dois se conheceram quando o britânico já levava cinco meses caminhando –não demorou muito, disse Cho, para que se dessem conta de que a parceira iria até o fim da viagem.
“Comecei a caminhar com Ed no começo porque senti uma responsabilidade de tentar ajudar esse louco em uma área muito perigosa, com traficantes e tribos hostis”, afirmou.
“À medida que o tempo passava, comecei a gostar da vida simples e nos tornamos bons amigos.”
A pouco menos de uma semana para terminar a aventura, Ed e Cho já deixaram a área de floresta e esperam vencer percursos em estrada até chegar à capital paraense, Belém.
“Não estamos reclamando”, blogou o britânico. “Tivemos bastante de floresta por ora, e as tentações da civilização são muito bem-vindas.”
Mas, pelo que relatou o britânico, nem assim os perigos deixaram de existir.
Só que, em vez de animais selvagens e dos mistérios da mata, o risco é humano: perto do rio Tocantins, quase foram atropelados por um motoqueiro que dava a impressão de estar bêbado e conduzia sua moto no escuro e em alta velocidade.
BBC/folha.com
Foto: Keith Ducatel