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Ilha chinesa cresce de forma rápida e vira paraíso de bilionários

por Redacao
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A ilha de Hainan exibe sua ambição sem complexos: tornar-se o destino dos mais ricos. Marinas, iates e palácios, vale tudo para atraí-los

Aqui, o tempo passa mais rápido que em outros lugares. Pergunte a um investidor da ilha de Hainan se esse futuro hotel “6 estrelas”, que ali adiante eleva suas torres em construção na direção do céu de monção, ou se, mais além, esse luxuoso complexo residencial são recentes, e ele lhe responderá: “Ah, não, ele deve ter uns três ou quatro anos…”. Em Hainan, anteontem já é passado distante.

Essa grande ilha situada no extremo sul da China, ao largo das costas vietnamitas, é uma espécie de caricatura do desenvolvimento acelerado do país, um precipitado assustador, desmedido, do famoso milagre econômico.

Em Sanya, principal destino turístico e segunda maior cidade de Hainan, não importa para onde se olhe, há um cenário de guindastes, andaimes e prédios recém-erguidos.

Acompanhando o mar e suas praias de areia reluzente, há novas cidades dedicadas ao prazer estival de turistas ricos ou ultrarricos, formando uma corola urbana às vezes ininterrupta.

Em 31 de dezembro de 2009, o Conselho de Estado (o governo chinês) apontou Hainan como modelo prioritário do desenvolvimento turístico do país. Objetivo: fazer da ilha um “destino internacional competitivo”.

Para isso, Hainan deve “se posicionar como uma ilha que se esforça para introduzir padrões internacionais”. A meta é, com o tempo, concorrer com os outros paraísos do resto da Ásia, como a Tailândia, o Vietnã e a Indonésia.

Sanya ainda precisa fazer muito para poder esperar competir com esses grandes, mas ela já recebe mais de 500 mil turistas estrangeiros e mais de 6 milhões de chineses por ano em seus 187 hotéis padronizados.

Neste ano, em Sanya e em Haikou, centro administrativo da ilha, os preços do setor imobiliário dispararam. Em fevereiro, o custo médio de um apartamento subiu 50% em relação a 2009, ou seja, cinco vezes a média nacional, anunciou a Agência de Estatísticas.

“Não temos terrenos o suficiente para vender, e as áreas à beira-mar que podem ser construídas são limitadas, então os preços disparam”, lamenta Tang Sixian, vice-diretor da Comissão do Desenvolvimento Turístico de Sanya. “E as pessoas vêm para investir. Muito. Elas pagam em dinheiro vivo!”, sorri.

Pagar em dinheiro vivo é bem o estilo de Wang Dafu, bilionário da região, presidente da empresa imobiliária Hangzhou e criador da recente marina para iates de bilionários.

Aos 44 anos, esse nativo da ilha já é por si só a história de um sucesso fenomenal: ainda que se recuse a dizer que é o mais rico dos habitantes, ele admite ser aquele que “mais paga impostos”.

Wang nos recebe em uma das salas do hotel de luxo que abriu em Sanya para os clientes de sua marina. De camisa polo verde, calça branca de listras pretas, óculos escuros, anel gravado e relógio de ouro, ele estende distraidamente uma mão a seu convidado, enquanto dá ordens por meio de um de seus dois celulares.

Seu diretor de marketing, “Stuart” Hu, revelou antes da chegada do chefe: “Ele veio do nada, conhece a dureza da vida”.

Ele teve a ideia dessa marina para bilionários em 2002. “Na época, comprei dois iates e pensei comigo mesmo que poderia abrir aqui um pequeno porto de recreação. Para mim, era mais prazer do que negócios. O principal é a paixão pelo mar e pelos barcos. Pessoas ricas que realmente adoram o mar. É esse meu critério de seleção!”, diz Wang, engolindo um ravióli que uma garçonete lhe serve apressadamente.

Para alguém que se preocupa mais com prazer do que com negócios, Wang Dafu não perdeu tempo: 400 loucos por iatismo já se inscreveram na marina, que abriu em agosto de 2009.

300 deles compraram imóveis vendidos por sua empresa. Esses podem se tornar membros do clube gratuitamente. Os outros cem pagaram pelo direito de atracar seus iates –que eles também podem alugar, pois o bom Wang também vende barcos– 630 mil yuans (R$ 168 mil).

As suítes do hotel, com vista para o pequeno porto onde já estão ancorados 40 iates, entre os quais o luxuoso Pershing de 3 milhões de euros de Wang Dafu, custam mais de 16 mil yuans (R$ 4.212) por noite.

A história do sucesso de Wang prefigurou a de sua ilha natal e, nesse sentido, é como sua representação primeira.

Em meados dos anos 1980, pouco tempo após o lançamento da política “de abertura e reforma”, o jovem Dafu, que enriqueceu aos poucos, começou fazendo viagens entre Hainan e Shenzen, cidade próxima de Cantão transformada em zona econômica especial pelo “pequeno timoneiro” Deng Xiaoping. Ele fazia pequenas vendas, de fertilizantes e produtos derivados do petróleo.

Foi nos anos 1990 que começou a galgar cada vez mais rápido a vertiginosa escada do sucesso social chinês. A receita era simples: “Investi no setor imobiliário em Shenzhen. Comprei quando os preços estavam baixos”.

E revendeu por preços muito altos. “Tsa! Tsa!”, ele diz, fazendo com os braços o gesto de engorda. “Quando eu estava em Shenzhen, nunca teria imaginado o que esses negócios poderiam vir a representar. Em minha juventude, o essencial era sobreviver”.

A pobreza é coisa do passado para Wang Dafu. O que ele fará para garantir o “reassentamento harmonioso” das centenas de pescadores cujas sampanas estão atracadas no pequeno porto, situado logo à frente da marina?

“Olhe ali”, diz, apontando um bloco de prédios em construção, do outro lado da marina: “São conjuntos de moradias que minha empresa mandou construir. O porto será deslocado para outro lugar”.

Em frente, as pessoas não gostam muito das ambições do ex-pobre de um tempo distante, um tempo em que ninguém era rico. Na família de Li (o nome foi mudado), que prefere guardar anonimato, a empresa do bilionário é vista como devoradora de vida passada.

Em torno da mesa, em uma noite de julho, na sala de jantar onde há somente uma geladeira, estão todos reunidos, desde o avô de regata que revira com os palitos sua tigela de arroz de porco, até a avô desdentada, passando pelo filho e sua esposa. “Eles são maus”, observa a nora, mostrando esse “outro lado” do porto, a marina.

“As compensações por nossa futura expulsão são insuficientes, ainda que os negociadores de Hongzhu tenham entendido que precisarão subir os preços. Por enquanto, a indenização proposta não nos permitirá nem mesmo que nos reinstalemos”. Quer dizer, nos imóveis construídos por aqueles que os estão expulsando.

uol

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