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Morre aos 87 anos o escritor português José Saramago

por Redacao
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Morreu nesta sexta-feira (18) em Lanzarote (Ilhas Canárias, na Espanha), o escritor português José Saramago, aos 87 anos. Em 1998, Saramago ganhou o único Prêmio Nobel da Literatura em língua portuguesa. A Fundação José Saramago confirmou em comunicado que o escritor morreu às 12h30 (horário local, 7h30 em Brasília) na residência dele em Lanzarote “em consequência de uma múltipla falha orgânica, após uma prolongada doença. O escritor morreu estando acompanhado pela sua família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila”.

Nos últimos anos, o escritor foi hospitalizado várias vezes, principalmente devido a problemas respiratórios. O velório de José Saramago será realizado a partir das 17h no horário local (13h em Brasília) em Tías, na ilha de Lanzarote. A solenidade será na biblioteca Tías, que leva o nome do escritor. Saramago publicou no final de 2009 seu último romance, “Caim”, obra com um olhar irônico sobre o Velho Testamento e, por isso, muito criticada pela Igreja.

Ateu e integrante do Partido Comunista Português, o escritor nasceu em 1922, em Azinhaga, uma aldeia ao sul de Portugal, numa família de camponeses. Autodidata, antes de se dedicar exclusivamente à literatura trabalhou como serralheiro, mecânico, desenhista industrial e gerente de produção em uma editora.

Começou a atividade literária em 1947, com o romance Terra do Pecado. Voltou a publicar livro de poemas em 1966. Atuou como crítico literário em revistas e trabalhou no Diário de Lisboa. Em 1975, tornou-se diretor-adjunto do jornal “Diário de Notícias”. A partir de 1976 passou a viver de seus escritos, inicialmente como tradutor, depois como autor.

Em 1980, alcança notoriedade com o livro Levantado do Chão, considerado por críticos como seu primeiro grande romance. Memorial do Convento confirmaria esse sucesso dois anos depois. Em 1991, publica O Evangelho Segundo Jesus Cristo, livro censurado pelo governo português — o que leva Saramago a exilar-se em Lanzarote, onde viveu até hoje.

Entre seus outros livros estão os romances O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), A Jangada de Pedra (1986), Todos os Nomes (1997), e O Homem Duplicado (2002); a peça teatral In Nomine Dei (1993) e os dois volumes de diários recolhidos nos Cadernos de Lanzarote (1994-7). O livro Ensaio sobre a Cegueira (1995) foi transformado em filme pelo diretor brasileiro Fernando Meirelles em 2008

A primeira biografia de Saramago, do escritor também português João Marques Lopes, foi lançada neste ano. A edição brasileira de “Saramago: uma Biografia” chegou às livrarias no mês passado, com uma tiragem de 20 mil exemplares pela editora LeYa.

Segundo o autor, Saramago chegou a pensar na hipótese de migrar para o Brasil na década de 1960. “Em cartas a Jorge de Sena e a Nathaniel da Costa datadas de 1963, Saramago considera estes tempos em que escreveu e reuniu as poesias que fariam parte de ‘Os Poemas Possíveis’ como desgastantes em termos emocionais e chega mesmo a ponderar a hipótese de migrar para o Brasil. Esta informação surpreendeu-me bastante, pois não fazia a mínima ideia de que o escritor chegara a ponderar a hipótese de emigrar para o Brasil e por a mesma coincidir com o período da história brasileira em que esteve mais iminente uma transformação socialista do país”, disse Lopes em entrevista à Folha.com. Após lançamento da biografia, Saramago classificou a obra como “um trabalho honesto, sério, sem especulações gratuitas”.

Nobel

Saramago ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em outubro de 1998, aos 75 anos. Em comunicado à época, Real Academia Sueca assim justificou a premiação: “A arte romanesca multifacetada e obstinadamente criada por Saramago, confere-lhe um alto estatuto. Em toda a sua independência, Saramago invoca a tradição que, de algum modo, no contexto atual, pode ser classificada de radical. A sua obra literária apresenta-se como uma série de projetos onde um, mais ou menos, desaprova o outro, mas onde todos representam novas tentativas de se aproximarem da realidade fugidia”.

Ajuda ao Haiti

Saramago relançou em janeiro deste ano nova edição do livro A Jangada de Pedra, que tem toda a sua renda revertida para as vítimas do terremoto no Haiti. O relançamento da obra foi resultado da campanha “Uma balsa de pedra a caminho do Haiti”, que doa integralmente os 15 euros que custará o livro (na União Europeia) ao fundo de emergência da Cruz Vermelha para ajudar o Haiti. Em nota, Saramago havia explicado que a iniciativa é da sua fundação e só foi possível graças à “pronta generosidade das entidades envolvidas na edição do livro”.

Obras publicadas

Poesias

– Os poemas possíveis, 1966
– Provavelmente alegria, 1970
– O ano de 1993, 1975

Crônicas

– Deste mundo e do outro, 1971
– A bagagem do viajante, 1973
– As opiniões que o DL teve, 1974
– Os apontamentos, 1976

Viagens

– Viagem a Portugal, 1981

Teatro

– A noite, 1979
– Que farei com este livro?, 1980
– A segunda vida de Francisco de Assis, 1987
– In Nomine Dei, 1993
– Don Giovanni ou O dissoluto absolvido, 2005

Contos

– Objecto quase, 1978
– Poética dos cinco sentidos – O ouvido, 1979
– O conto da ilha desconhecida, 1997

Romance

– Terra do pecado, 1947
– Manual de pintura e caligrafia, 1977
– Levantado do chão, 1980
– Memorial do convento, 1982
– O ano da morte de Ricardo Reis, 1984
– A jangada de pedra, 1986
– História do cerco de Lisboa, 1989
– O Evangelho segundo Jesus Cristo, 1991
– Ensaio sobre a cegueira, 1995
– A bagagem do viajante, 1996
– Cadernos de Lanzarote, 1997
– Todos os nomes, 1997
– A caverna, 2001
– O homem duplicado, 2002
– Ensaio sobre a lucidez, 2004
– As intermitências da morte, 2005
– As pequenas memórias, 2006
– A Viagem do Elefante, 2008
– O Caderno, 2009
– Caim, 2009

* Com agências internacionais

UOL/Folha.com

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